24 agosto 2006

Poema Alentejano

Jeitosos do costume, um dos sítios onde se constroem os poemas com mais sentimento e emoção neste nosso país da tanga, é sem dúvida nessa bela província Alentejana. Ora, visto ter passado por essa tão castiça região nestas férias, não poderia vir "de mãos a abanar", portanto pedi a um habitante que estava a praticar o desporto favorito da zona (dormir à beira de um chaparro) que me ditasse umas quadras... O resultado foi uma bela sequência...
Tomem lá uma bela injecção de boa cultura:

Tava eu a tirar moncos
lá da cana do nariz
anquanto fazia uma mija
assim tipo chafariz.

Tinha a bexiga tã chêia
que fiquê lá uma hora
quando me assomê em volta
tinha ido tudo embora.

Sacudi o coiso e tal
enquanto coçava a bilha
de tal manêra atascado
que o entalê na braguilha.

Tirê as botas do lodo
que fizera na mijada
sacudi tamém as calças
sempre com ela entalada.

Pedi ajuda à Ti micas
que cerca dali morava
mas depilou-me os tomates
da força com que a puxava.

Ensanguentado na pila
fui aos tombos pelo monti
vomitando quasi as tripas
nã sêi se queres que te conti

Como comera dôs pães de quilo e um garrafão
p'rajudar a empurrare
na admira que tivesse
três horas a vomitare.

Detê-me na palha fresca
para ver se descansava
enterrê-me logo em bosta
de uma vaca que passava

E foi assim que essa tarde
conheci um caracole
os dois deitados na palha
com os cornos a secare ao sole.

Porque esta vida é tão dura
por aqui p'lo Alentejo
dêxa cá dormire um pôco
vamos soltando um bocejo.

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